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quinta-feira, 16 de julho de 2015

Um parquinho de Ratos: Ratos que quando brincam preferem beber água ao invés de usar drogas!

Originalmente publicado em: Análise Funcional

Bom dia pessoal,

voltando a publicar aqui no Análise Funcional para mostrar para vocês essa pesquisa de 1981, feita pelo Analista Experimental do Comportamento Bruce K. Alexander e Cols.



Originalmente como: Effect of Early and Later Colony Housing on Oral Ingestion of Morphine in Rats

(O Efeito  comparativo da precoce e tardia colonia de férias na ingestão oral de morfina em ratos)

Explicarei passo a passo como funcionou o experimento, mas deixarei o link do artigo (em inglês) com o estudo completo para acompanharem. Não colocarei gráficos nem análise estatísticas exaustivas, somente as conclusões dos dados, quem quiser acompanhar leia simultaneamente meu texto com o artigo.

Vamos lá.

HIPÓTESE

Professor Alexander, queria testar quais fatores de história pregressa, ou seja, antes do experimento, estava afetando suas cobaias, os Ratinhos Wistar em seus experimentos farmacológicos sobre a dependência de opioides, no caso a Morfina (MHCl) que estavam variando de indivíduo para indivíduo.



A hipótese de Alexander, era que o contato social com outros ratos, bem como atividades prazerosas (Reforçadoras) pregressas estavam de alguma forma afetando os resultados.

SUJEITOS EXPERIMENTAIS E HISTÓRIA PREGRESSA:

Este então montou um experimento duplo cruzado, intergrupos, no qual ele usou 32 roedores, 16 machos e 16 fêmeas, e duas situações pré-experimentais:

1 -Isolamento (I), em que o rato viveria em uma caixa escura sem contato com outros ratos e;

2 - Colonia (C), uma Colonia de Férias em que os ratos viveriam em contato com outros ratos, bem como teriam acesso a dispositivos manipulativos (Brinquedos), como em um parquinho.

Dessa forma ele combinou o número de ratinhos com as duas colonias gerando 4 tipos de combinações:

(I-I) -  (4 Machos e 4 Fêmeas) Esse grupo era colocado em isolamento desde o começo (25 dias de vida até o fim do experimento com 80 dias)

(I-C) - (4 Machos e 4 Fêmeas) Esse grupo era colocado em isolamento pelo período inicial (25 - 65 dias de vida) e depois era inserido na colonia de férias (Até o fim do experimento com 80 dias).

(C-I) - (4 Machos e 4 Fêmeas) Esse grupo viviam os primeiros dias de vida feliz na Colônia de férias (25 - 65 dias de vida) e após isso era posto em isolamento.

(C-C) (4 Machos e 4 Fêmeas) Esse grupo passou todo o experimento feliz na colonia (25 dias de vida até o fim do experimento com 80 dias).



A CAIXA: 

Todo o consumo de líquidos dos ratos era realizado em caixas acopladas à Colonia, em que o rato tinha que entrar para beber, nessas caixas haviam 2 buracos na parede dos quais se o rato enfiasse a cabeça, liberava uma porção de liquido, sendo que o da esquerda liberava água pura e o da esquerda uma solução de água com açúcar inicialmente.

O experimento é então dividido em 7 fases, das quais são divididas em:

Nome da Fase
Dosagem de Quinina/Morfina na Solução Açucarada
Dias
PRÉ
Água+10% Sacarose
3
Q
0,06mg QSO4ml água + 10% Sacarose
5
1
1,00mg MHCl/ml água + 10% Sacarose
5
0,5
0,50mg MHCl/ml água + 10% Sacarose
5
0,3
0,30mg MHCl/ml água + 10% Sacarose
5
0,15
0,15 mg MHCl/ml água + 10% Sacarose
5
POST
Água + Sacarose
3

Ou seja, quando o experimento começou para todos os ratos havia apenas duas opções, ou tomar água, ou tomar água açucarada (FASE PRÉ). Após 3 dias foi adicionado a água açucarada uma concentração de 0,06mg de Quinina (FASE Q). Após 5 dias a Quinina foi retirada e foi adicionado a água açucarada 1mg de Morfina. Cinco dias depois foi reduzido a metade, cinco dias depois a 0,3, mais cinco dias a 0,15 e finalmente retirado totalmente as drogas e colocado apenas água com açúcar (FASE POST).



Os resultados foram impressionantes! Foram medidos várias coisas, como intensidade de substância no sangue/peso, etc. Para nós interessa apenas as escolhas dos ratos, ou seja as vezes que eles preferiram drogas ao invés de água pura.



Inicialmente na fase PRÉ houve uma preferência gritante de todos os grupos pela água açucarada sem a adição de drogas.

Na fase Q (Quinina) houve uma pequena queda na preferencia da água açucarada.

A fase 1 aconteceu algo surpreendente.

Inicialmente houve uma queda gritante na ingestão da água açucarada com morfina em todos os grupos, as diferenças se seguem daqui:

O grupo II (Isolado - Isolado) teve um aumento constante da solução que se estabilizou na fase POST com a mesma frequência da fase pré.

O grupo CI (Colonia - Isolado) teve um aumento explosivo na fase 1, e um aumento mais brando a partir da fase 0,5 em diante, voltando ao nível de preferencia na fase POST um pouco acima da fase Q.

O grupo IC (Isolado - Colonia) manteve seu consumo baixo durante toda a fase 1, e espantosamente subiu e durante a fase 0,5 e manteve a subida constante até o fim voltando o nível de preferência na fase POST na mesma semelhante ao que tinha na fase PRÉ.

O grupo CC (Colonia - Colonia) manteve uma preferencia de consumo baixa na fase 1, uma leve subida na fase 0,5, e uma subida constante alta na fase 0,3 mas bem inferior ao consumo na fase POST e na fase PRÉ.

Ouve uma variação pequena entre o grupo de machos e fêmeas, sendo que o ambiente teve um papel menor nos resultados delas que nos dos ratos.

RESUMO DA ÓPERA


Esse experimento mostra que o ambiente ao qual os ratos foram submetidos teve um enorme papel causal na preferencia e adicção por drogas, os ratos que tiveram toda a vida dentro da Colonia, consumiram bem menos drogas que os demais.

O segundo grupo que consumiu menos drogas foi o dos que iniciaram isolados e depois foram colocados na Colonia, um dado interessante, pois mostra que o ambiente atual é mais significativo na determinação do uso de drogas do que o histórico de vida pregresso.


Para quem assistiu "Breaking Bad, é claro o papel do ambiente atual na vida de Walter e Jesse, White um professor fracassado em sua carreira ao descobrir que tem Câncer passa a fabricar drogas e o outro, Jesse um adolescente perdido que ao encontrar em White uma figura de Pai/Professor/Amigo, bem como a desenvolver um trabalho do qual ele se orgulhasse (mesmo que fabricando drogas em complexos processos químicos) passa a usar cada vez menos drogas, até mesmo a parar.
O grupo que viveu os primeiro dias na Colonia, se divertindo a beça, e depois foram isolados tiveram um consumo de drogas elevado, maior mesmo do que os que viveram a vida toda isolados. Ou seja, podemos nos arriscar a interpretar que o rato habituado a uma vida sociável e divertida, ou ampliar seu consumo de drogas pode estar tentando "Fugir da Realidade", ou seja, a substancia tem a função de Fuga.


CONSIDERAÇÕES FINAIS


Este experimento foi boicotado e esquecido por muitos anos devido a lucrativa industria de "Guerra as Drogas" que movimenta cerca de 20 bilhões de dólares segundo o ultimo levantamento do governo Americano em 2000.

É fácil entender, porque ao invés de clínicas de desintoxicação e coquetéis caríssimos a melhor maneira de evitar o uso compulsivo de drogas em primeiro lugar é:

1 - Cuidar para que o sujeito se desenvolva em um ambiente em que tenha acesso a socialização saudável, alimentação, abrigo, comida, escola bem como atividades que o permitam criar repertórios comportamentais de autonomia, autoestima e autoconfiança.

2 - Promover esse tipo de ambiente como alternativa para as pessoas que já estão usando drogas para que a droga perca a sua função de Fuga/Esquiva.

É um trabalho árduo, mas como dizia nosso Mestre, B.F.Skinner






REFERÊNCIA:

SUPER INTERESSANTE: http://super.abril.com.br/ciencia/drogas-o-que-fazer-a-respeito

SITE DO PROFESSOR BRUCE K ALEXANDER: http://www.brucekalexander.com/articles-speeches/rat-park/148-addiction-the-view-from-rat-park

ARTIGO ORIGINAL DA PESQUISA EM 1981:

http://www.brucekalexander.com/pdf/Rat%20Park%201981%20PB&B.pdf



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